sexta-feira, setembro 29, 2006

Desabafos de uma professora "titular"

"Mas... só me apetece dizer "os professores têm o que merecem".Mas que merda de gente é esta que se põe a falar sobre a Proposta de alteração do Estatuto da carreira docente sem o ler primeiro! É ouvir "a fulana disse-me que...o sicrano disse-me que....caíram na armadilha montada (muito bem montada) pelo ministério e é vê-los (furiosos e ultrajados) de braços no ar a dizer raios e coriscos dos encarregados de educação: "EU? SER AVALIADA PELOS PAIS DOS ALUNOS? ERA O QUE FALTAVA! TODOS BURROS E ANALFABETOS, SEM FORMAÇÃO, IRRESPONSÁVEIS, ETC, ETC, ETC..." E não saem daqui . Que bom para o ministério, cuja ministra, a esta hora, esfrega as mãos de contente e diz "esta classe é uma cambada de burros, deixai-os esbracejar à vontade, ocupados com a guerra contra os pais porque, aquilo que a nós realmente interessa, é o resto que está escrito no novo estatuto"! Sou obrigada a tirar o chapéu a esta ministra e dizer que é, de facto, muito inteligente, embora pudesse ser mais bem educada e dizer as coisas de forma mais "subtil", mas para além de ser inteligente é, como se diz cá no Alentejo, "mais bruta que uma morada de casas", e quando fala é para deitar tudo abaixo. Pois, pois, ocupem-se com os pais e não vejam que: a partir de agora, 80% dos professores nunca atingirá o topo da carreira; navegarão toda a sua vida profissional no 3º escalão, recebendo um mísero salário (isto, se não tiverem o azar de receber duas classificações seguidas de "regular", ou pior ainda, forem classificados de "insatisfaz", porque aí são excluidas do circuito, sem hipótese de regresso) ; os desgraçados que agoram iniciam, para além do exame de estado, e supondo que têm nota positiva, têm um primeiro ano de experiência para mostrarem se servem ou não, se não, fora com eles. Agora, pergunto eu: os médicos ou os juízes também o fazem? Se calhar, deviam!; a 1ª redução lectiva (2 horinhas) só vai acontecer aos 50 ANOS DE IDADE; e pensar que na Alemanha a seguir a uma 1ª recaída, após uma depressão nervosa, os docentes são reformados! Um professor, dos 2º, 3ºciclos e secundário, com 50 anos de idade, em Portugal, irá enfrentar uma média de 100 a 130 alunos diáriamente; e livre-se de ir ao psiquiatra porque, então, com fama de "maluco" é que nunca mais passará da classificação de "regular", se não for "pró olho da rua"(supranumerário). E dizem já alguns todos inchados "Eu já sou professor de 1ªcategoria," E ENCHEM A BOCA PARA ACRESCENTAR "JÁ SOU PROFESSOR TITULAR". Mas que tolos, não viram o presentinho envenenado que lhes está reservado: são eles que obrigatóriamente têm que assumir as funções de coordenadores, executivos, departamentos, etc. Há que aprender a ser "lambe-botas" dos chefes de departamento, dos coordenadores de grupo e dos membros do executivo (claro, sem esquecer a oferta dos presuntos aos encarregados de educação!), são eles que nos vão avaliar numa escala de 1 a 10;Um dos itens de avaliação ao docente, a preencher pelo executivo é "nº de alunos que reprovou", "nº de alunos que abandonou"...finalmente, o insucesso escolar vai acabar e os alunos num futuro próximo não vão saber escrever uma linha direita, nem somar 2+2, quer dizer, 1+1, porque 2+2 já não sabem, agora. E é vê-los a berrar "greve aos exames, greve aos exames!!!!!!!" . Já se esqueceram da requisição civil feita nos exames do ano passado, durante a qual, pusemos o rabinho entre as pernas e fomos todos assinar o ponto. Ninguém fala de uma greve de zelo, a começar no período das avaliações, mas não, isso seria uma atitude demasiado nobre para ser levada a cabo por uma chusma de incompetentes que pensa logo: "HÉ PÁ, MAS ISSO VAI ATRASAR A MINHA IDA PARA FÉRIAS, NÃO PODE SER"! A ministra aparece na comunicação social a "chamar tudo aos professores" e eles, com um sorriso larápio ainda dizem "conheço colegas que são mesmo o que ela (ministra) diz"; e os MUITOS que o não são? Tive um saudoso professor de História Económica que, na década de 80, dizia "aos professores só já falta cagar em cima". Pois agora já não falta! RECUARAM COM OS MÉDICOS, RECUARAM COM OS MAGISTRADOS, MAS TÊM A OFENSIVA GANHA COM OS PROFESSORES QUE, DE FACTO, SÓ TÊM O QUE MERECEM."


Mariana (uma professora titular).

segunda-feira, setembro 25, 2006

Os campeões do arrependimento

Um recente inquérito feito pela Associação Nacional de Professores a 3252 professores concluiu que 43,6% não escolheriam esta profissão se pudessem voltar atrás. Tendo em conta tudo o que se tem dito dos professores, nomeadamente, que se trata duma classe privilegiada e bem remunerada, este resultado deve-nos fazer reflectir. Das duas uma: ou os professores gostam de dramatizar - se calhar é por isso que os consultórios dos psiquiatras se enchem desta gente! - e, nesse caso, não responderam ao inquérito com seriedade, ou então tudo o que se tem dito sobre eles não passa de um enorme embuste que deve ser desmascarado. Eu sei a resposta. E você, caro leitor?

sexta-feira, setembro 22, 2006

De indignação em indignação

Maria de Lurdes Rodrigues, acorrendo a mais uma solicitação, vem à estampa, esta semana na revista "Visão", num artigo de opinião, onde a dado passo escreve esta coisa singela: "A estruturação da carreira docente em dois níveis, introduzindo a diferenciação e o reconhecimento do mérito dos professores, procurará estimular o seu empenho...". Como?! Desde quando é que os professores se podem sentir motivados quando sabem que, por muito que se dediquem ao seu trabalho e por melhores que sejam os seus níveis de competência, o mais provável é nunca ascenderem à categoria de professor titular pela simples razão de que esta senhora decidiu introduzir numerus clausus no acesso aos patamares mais altos da carreira? Escrever estas alarvidades com o maior dos despudores, revela uma falta de honestidade intelectual que revolta qualquer leitor mais esclarecido. Mesmo que esse leitor não seja professor!

terça-feira, setembro 19, 2006

Os Conselhos Executivos

Ontem não vi o "Prós e Contras". E não vi porque de antemão sabia que não iria ser dito nada de novo. Além disso já não tolero ouvir a ministra: a senhora provoca-me náuseas e dado que não sou obrigado a ouvi-la, faço tudo para a evitar. Não duvido, no entanto, que muitos professores tivessem estado à frente do televisor ouvindo atentamente tudo o que a senhora tinha para dizer. Lendo alguns blogues esta manhã confirmei as minhas suspeitas: a ministra esteve igual a si própria, o mesmo é dizer, arrogância e prepotência a rodos e competência e educação a menos. No programa também estiveram alguns presidentes de conselhos executivos que, de acordo com os relatos, outra coisa não fizeram que bajular a ministra. Muitos deles, há muitos anos que não dão aulas mas mesmo assim arrogam-se o direito de querer representar os seus colegas professores. Deviam ter vergonha na cara. Esta gente - não são tão poucos quanto isso - está-se borrifando para a classe: fazem-se representar apenas a si próprios a aos seus interesses que na grande maioria dos casos passam pela perpetuação no poder sem olhar a meios e pisando (leia-se, perseguindo) todos aqueles que ousem enfrentá-los. No exercício do cargo seguem religiosamente as orientações do ministério, mesmo que estas sejam desapropriadas ao contexto em que se inserem. Não importa. É preciso mostrar serviço aos superiores hierárquicos e eles estão lá para isso. Querem dar a imagem de bons alunos e fazem os possíveis para manter a confiança das chefias (direcções gerais e ministério da educação). A grande maioria queixa-se do excesso de trabalho e das curtas férias mas, curiosamente, quando chegam as eleições lá estão eles novamente a recandidatar-se. Vá lá a gente perceber porquê! Limitação de mandatos precisa-se e com urgência!

domingo, setembro 17, 2006

A Área Projecto no 12ºAno

Os alunos do 12ºAno foram presenteados neste ano lectivo com uma nova "disciplina". Refiro-me concretamente à Área Projecto, área curricular não disciplinar, já velha conhecida dos alunos do unificado mas agora com outros níveis de exigência, no secundário. Alguém entendeu que o ensino secundário era demasiado académico e que seria necessário arranjar uma "disciplina" com carácter prático que desenvolvesse nos alunos uma visão integradora do saber, promovesse a sua orientação escolar e profissional e facilitasse a sua aproximação ao mundo do trabalho. Os alunos, claro está, não gostam da ideia. Os professores também têm dificuldade em acreditar no sucesso desta inovação. Será que alguém acredita verdadeiramente que a AP vá acrescentar algo de significativo à formação dos alunos do 12º ano? Chamem-me conservador mas esta parece-me mais uma daquelas medidas avulsas do ministério, apostado em modernices, que em nada acrescentam qualidade ao currículo e que acabam sim por constituir mais um suplemento de desmotivação em alunos e professores. Depois da Área Escola só faltava mais esta para nos atormentar o juízo e a paciência!

terça-feira, setembro 12, 2006

Uma classe amorfa

O ECD é uma coisa séria e devia merecer de todos os professores uma leitura atenta e pormenorizada. Infelizmente aquilo que se verifica é que grande parte ainda não leu o documento nem faz tenção de o ler. Não estão para aí virados. Uma pequena minoria limita-se a recolher algumas informações junto daqueles colegas que ainda se vão preocupando com a profissão, enquanto a esmagadora maioria nem isso faz. Não restem dúvidas que esta constante perseguição de que temos sido vítimas por parte da ministra da educação só acontece porque somos uma classe amorfa no que toca à defesa dos nossos direitos. Quando discordamos, os nossos protestos e lamentos ficam-se pela sala de professores, deixando que outros - os sindicatos e alguns professores mais ousados - façam o trabalho que devia caber a todos. Sendo assim, temos o que merecemos e não temos autoridade moral para nos queixarmos.

sábado, setembro 09, 2006

Direito à indignação

Ainda a propósito do post anterior e num artigo sobre a mesma matéria, podemos ler no "Correio da Manhã" de hoje, o seguinte: "Os salários dos docentes nacionais são, no entanto, dos mais baixos quando comparados só por si com os dos outros países, sem levar em conta a ponderação do PIB. No início da carreira, um professor no Luxemburgo recebe 2554 euros por mês; na Alemanha, 2183; e em Espanha 1712."
Isto esquecerem-se os senhores do "Público" de referenciar porque obviamente não lhes interessa. Desde há muito tempo que este jornal vem fazendo uma campanha de assassinato público dos professores que já enoja. Manipulam dados, dão falsas notícias, sempre com o intuito de achincalhar a classe docente.
Se querem ser sérios utilizem os mesmo critérios e abordem os salários dos políticos, dos gestores públicos, dos advogados, dos engenheiros, dos médicos, dos juízes, dos enfermeiros. Aí é que os resultados seriam certamente surpreendentes!

Estamos sempre a aprender

Depois de ler esta notícia fiquei a saber que o melhor que tenho a fazer é emigrar para o México. Contrariamente ao que eu e muita gente pensava, é neste país que os professores têm o melhor nível de vida. Qual países nórdicos, qual Inglaterra, qual Alemanha, qual França, qual Holanda...! Desenganem-se, pois não é nestes países que está o dinheiro. Para os professores o paraíso está no México. Durante muitos anos fizeram-nos crer que neste país da América do Norte a miséria abundava. Afinal tudo não passava de uma grande mentira!

sexta-feira, setembro 08, 2006

Promover uma cultura de exigência nas nossas escolas

A sociedade é cada vez mais competitiva, cada vez mais exigente. No trabalho, no desporto, no lazer, na formação e na investigação cada vez se exige mais e se estabelecem metas cada vez mais ambiciosas. Esta postura de exigência nem sempre é possível de ser aplicada na escola.
O processo de socialização do aluno, os problemas do sistema de ensino e a contradição e os seus grandes objectivos e as reais condições com que se deparam as escolas, bem como a orientação política de muitos governos, mais preocupados com estatísticas de sucesso/insucesso para Europa ver, têm levado à aprovação de sistemas de avaliação e progressão pouco concordantes com o grau de exigência que se pressente na sociedade em geral.
Da constatação destes factos resulta que não podemos continuar a passar a mensagem de que é mais cómodo promover o sucesso, mesmo sem o aluno saber, do que fazê-lo repetir novamente o ano, para que os objectivos e competências definidas sejam efectivamente atingidas.
É pois missão da escola, não só, ter em atenção todas as componentes sociais, económicas, afectivas e psicológicas dos alunos, mas também pugnar por um ensino de qualidade.
A aprendizagem da vida em sociedade passa pela aprendizagem de que o estudo, o empenho, o esforço, a dedicação devem efectivamente ser premiados. É assim que se passa na sociedade. Só os mais capazes, os mais exigentes consigo próprios é que são normalmente premiados, reconhecidos.
A escola no seu todo não pode ficar indiferente. Sem promover a competição, deve contudo, preocurar-se em formar com rigor, com empenho, em suma, com exigência.

quarta-feira, setembro 06, 2006

Ministério da Educação não cede

Como era de prever, o Ministério da Educação não recua nas matérias essenciais do novo Estatuto da Carreira Docente. Limita-se a conceder uns pequenos rebuçados que em nada alteram as questões fundamentais do documento. Tamanha prepotência e falta de respeito só podem ter uma resposta por parte dos professores. Resta saber se somos capazes de a dar. Infelizmente, estou muito céptico quanto a essa possibilidade.

segunda-feira, setembro 04, 2006

O ensino em Portugal visto pelos imigrantes do Leste

"Alla desistiu de ter o filho, de 12 anos, a estudar em Portugal. Ao fim de seis anos de escolaridade, fartou-se de o ouvir dizer que "ia descansar para a escola", que aqui se aprendia brincando e da "grande indisciplina" que marcava o dia-a-dia do ano lectivo nacional. O miúdo até ia bem - era um dos melhores da turma - mas voltou para a Ucrânia. Lá garante a mãe, é "tudo muito diferente. A professora não é uma amiga, é quem ensina. Os alunos estão lá para trabalhar e aprender. Não há brincadeira".
O embate foi duro para quase todos os imigrantes do Leste com filhos a estudar em Portugal. E começou logo nos primeiros dias da 1ª classe. Os meninos e meninas chegaram à primária a saber ler e escrever, a dominar as operações básicas de matemática e ainda com formação musical e física. Os seus colegas - todos portugueses - estavam ainda em branco.
Desde os 3 anos, na Ucrânia, que as crianças vão para a escola ter aulas de língua materna, matemática, música e educação física. "Como são pequenas, só têm 20 minutos de cada disciplina", explica Alla, garantindo que estão "sentados a trabalhar e isso é normal". Aos quatro, russos e ucranianos, aprendem a ler e a escrever. Se não o souberem, ficam para trás, ou "chumbam", uma vergonha nacional a que - pasmam-se os imigrantes - "ninguém liga nenhuma aqui!".
Explicar que só no final do 4º ano é exigido que os alunos portugueses saibam ler, escrever e contar, torna-se difícil de traduzir. Porque o fosso que divide a educação nacional e a das memórias dos imigrantes do Leste é, de tamanho "extra large". "Prefiro nem falar disso", diz Julia Gundarina, uma professora russa que apesar de estar cá há cinco anos e de "gostar tanto" que nem pensa em voltar para casa, assume que "a educação é o pior de tudo". Estranham, sobretudo, a maneira como se ensina, a falta de ordem, a "balda" generalizada. "Na Rússia os professores são mais exigentes", diz num português ainda mal arranhado, mas suficiente para perceber que importa não ferir as susceptibilidades.
Preferiram mudar de estratégia e criar alternativas. "A educação e a indisciplina nas escolas é um dos principais problemas da integração", diz Sérgio Treffaut, realizador brasileiro que produziu e dirigiu o documentário "Os Lisboetas". "Os imigrantes do Leste queixam-se muito destes aspectos. Acham que a escola, aqui, é demasiado banal", diz. Há quatro anos, abriu no Restelo uma escola russa que Julia dirige. Há cinco, Alla Lirkovest abriu uma escola ucraniana no Estoril. Mais de 120 estudantes estão no Restelo, desde ontem de manhã, em aulas que só fecham em finais de Junho. As turmas de ALLa não ultrapassam as 20 crianças e regressam hoje ao trabalho.
Começaram com o objectivo de ensinar a língua e cultura russa e ucraniana, mas alargaram a sua área de actividade. Ensinam os que acabaram de chegar a falar português e a aprofundar conhecimentos aos que frequentam a escola normal. Aos sábados, vindos de Setúbal, de Torres Vedras e de todos os arredores de Lisboa, as crianças passam nove horas seguidas na escola. Compensam num dia as falhas de uma semana de trabalho. "Ficam cansadas", garante Julia. Na segunda-feira voltam à escola portuguesa. Para descansar mais um pouco..."

Rosa Pedroso Lima no "Expresso"


Estes imigrantes do Leste não precisam de muito tempo para conhecerem a realidade portuguesa. Na educação, conseguem fazer o diagnóstico correcto - até mesmo as crianças, pasme-se! - algo que nós portugueses nunca conseguimos. Disciplina, exigência e trabalho. É muito simples. Só nós é que teimamos em não ver, que a chave do problema para a melhoria do ensino neste país, passa pela implementação destes factores. Em vez disso, escudamo-nos em teorias pedagógicas de valor mais que duvidoso que há muito minam e fragilizam o sistema de ensino em Portugal
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sexta-feira, setembro 01, 2006

Reprovações aumentam 20% no 9ºAno

A taxa de reprovação e desistência no 9.º ano subiu no ano lectivo de 2004/2005 de 12,5% para os 19,9%, segundo números publicados hoje pelo Diário de Notícias. Dos 96.500 alunos inscritos, 19 mil chumbaram. Trata-se do pior desempenho em mais de uma década. Tendo em conta que em 2005 os exames de Português e Matemática tiveram um peso de 30%, tudo aponta para que estes valores venham a ser ultrapassados.
Pensávamos nós que a educação neste país já tinha batido no fundo, mas, afinal, ainda há muito "fundo" por desbravar.