domingo, novembro 30, 2008

Políticas educativas - António Barreto

"A POLÍTICA DE EDUCAÇÃO é certamente um dos temas mais discutidos na vida pública nacional. Toda a gente (vários milhões de pessoas) tem um qualquer interesse na educação: pais, professores, jovens, empregadores, autarcas, trabalhadores e políticos. Estes últimos, em particular, pronunciam-se sempre que podem, dado que este tema é propício a declarações de eterno optimismo, de vigorosa determinação e de romantismo seguro. Ainda por cima, a educação (ou a falta dela) é quase sempre a “ultima ratio” que explica tudo, os falhanços, as incapacidades ou a ignorância. Perante um problema difícil, como a baixa produtividade, as taxas de abstenção eleitoral, a criminalidade, o desemprego, a corrupção, os desastres de viação ou a fuga ao fisco, um político, um analista ou um comentador, já para não dizer toda a gente, não deixa de concluir o seu raciocínio com uma frase parecida com esta: “O problema essencial é o da educação”. Também se pode substituir “problema” por “solução”. Uma variante afirma que “o mais importante é mudar as mentalidades. E isso começa na educação”. O problema é que estas declarações nada ajudam a resolver. Quando a última explicação ou a principal solução residem na educação, podemos concluir, sem margem de erro, que quem assim se exprime ou não percebe o que se passa ou não sabe o que fazer.
A análise das políticas de educação, tal como se encontram expressas nos programas dos governos e dos partidos, é um exercício frustrante. Com excepção de alguns aspectos mais extremistas ou radicais dos pequenos partidos, as políticas parecem-se umas com as outras. Além de que, em cada uma, está sempre tudo: a quantidade e a qualidade; o público e o privado; a autoridade e a democracia; o rigor e a facilidade; a severidade e a complacência; a autonomia e o dirigismo. Os partidos querem tudo, não querem deixar nada, nem ninguém, de fora. Apesar disso, a tentativa de análise é recompensada. Com efeito, percebe-se que, na verdade, se regista uma estranha continuidade de políticas desde os finais dos anos sessenta até hoje, A que não faltam objectivos centrais: o aumento da despesa pública, o alargamento do sistema, a expansão do número de professores e estudantes abrangidos e a ampliação da rede escolar. As diferenças e a evolução, que as houve, foram de pormenor, de instrumentos, de meios e de circunstância. Por isso todos dizem hoje que se deu excessiva importância à quantidade, em detrimento da qualidade. Apesar da unanimidade, não se retiram daí as lições adequadas.
Uma política é feita de princípios, objectivos, estratégia, organização e meios. A estes itens, importa acrescentar as condições políticas gerais, muitas vezes decisivas. Se olharmos bem, quase todos os partidos e governos coincidem, desde o fim da década de sessenta, nos princípios, na estratégia e nos objectivos. As principais diferenças são de meios, de instrumentos de acção, de medidas concretas de circunstância e mil outros pormenores. Estes factos explicam o paradoxo educativo português: mau grado a mudança permanente e apesar das sucessivas reformas, existe uma continuidade em tudo o que é essencial. É constante a mudança no acessório, o que desorienta a população estudantil, os pais e o corpo docente, mas o essencial fica imutável. Os grandes problemas (como a discriminação social implícita, a mediocridade de resultados, a falta de qualificação e o insucesso) são recorrentes e agravam-se. A preparação cultural e a formação profissional dos portugueses não melhoraram na proporção dos esforços feitos nesse sentido durante trinta ou quarenta anos. Assim é que os progressos quantitativos foram enormes, mas os progressos do conhecimento e do saber foram diminutos e medíocres, a ponto de Portugal ficar sempre muito mal colocado em todas as comparações internacionais.
Estas comparações, de grande utilidade, oferecem aliás muita matéria para reflexão. Sabe-se, por exemplo, que em Portugal: a) O número de professores é elevado. b) O número de alunos por professor é dos melhores do mundo. c) Os vencimentos dos professores, em proporção do produto nacional, são dos mais altos. d) A despesa pública com a educação é das mais elevadas. Ao mesmo tempo, estas comparações atribuem a Portugal uma posição medíocre, das piores do mundo, relativamente ao insucesso, o abandono escolar precoce, a formação profissional, o conhecimento em várias disciplinas (português, física, química e matemática) e o êxito pedagógico em geral.
É possível concluir (ou, pelo menos, formular uma hipótese): em Portugal, não existe um problema de insuficiência de meios financeiros, de recursos humanos, de equipamento e de instalações. Mas existem problemas de organização e de orientação. Um deles é a estabilidade política: 26 ministros e perto de cem secretários de Estado em 34 anos! Como se isso não bastasse, tem havido, ao longo dos anos, mudanças bruscas de acção (leis, medidas, meios e organização) dentro do mesmo governo ou do mesmo partido. Outro problema é o da politização excessiva da educação. Quase todos os governos e partidos fizeram da educação um terreno de combate político e eleitoral de primeira escolha, o que tem causado graves danos. Os governos interferem na escola, querem que os seus resultados sejam argumentos eleitorais, oferecem fundos e facilidades, distribuem equipamentos e desdobram-se em visitas às escolas, na esperança de ver a sua acção assim sufragada. A demagogia política, própria da democracia de massas, encontrou na escola um terreno ideal e favorável: é fácil demonstrar, diante de crianças, a generosidade dos políticos.
Uma observação do sistema educativo português e da sua evolução durante as últimas décadas permite pensar que, se os resultados qualitativos são tão medíocres, algo deve estar errado no essencial, naqueles aspectos que são evitados pelos partidos e pelos governos. Nesse plano, algumas ideias e concepções, recorrentes há décadas, deveriam ser postas em causa e discutidas. Por exemplo, a escola como sujeito da “formação integral do indivíduo”, tema simultaneamente laico e cristão, tradicionalista e republicano. Este modelo retira responsabilidades à família e afasta-a da escola, o que, nos tempos modernos, parece ser aceite geralmente, mas que na verdade cria um défice grave na formação dos alunos. Do mesmo modo, as concepções lúdicas da educação, com menosprezo pelo trabalho e pelo esforço, tanto individuais como colectivo, conduzem a escola a uma espécie de recreio permanente. Ensinar, aprender e estudar exigem trabalho, sacrifício e dedicação, não deveriam ser imaginados como se de um prazer se tratasse.
Também é nefasta a ideia de que o sistema educativo deve ser centralizado, unificado e integrado, sob a ordem superior, permanente e directa do ministério. Não só desaparecem as responsabilidades da escola e o empenho dos docentes, como são destruídos os laços que deveriam ligar a escola às comunidades. Vigora em Portugal a concepção “esclarecida” da comunidade educativa, limitando esta aos professores e aos estudantes, com exclusão dos pais, dos autarcas e dos cidadãos em geral. Esta escola é uma intrusa nas comunidades, um corpo estranho. Os pais e os autarcas consideram a escola como um fardo, uma ocupação dos jovens e uma guarda dos filhos, não lhe dão o seu melhor e nela não assumem responsabilidades. Esta escola, apesar da demagogia partidária e governamental, nada tem de autónomo, a não ser em algumas competências menores. Este é o modelo dirigista predominante em Portugal, vigente no Estado Novo e na democracia, com partidos de direita ou de esquerda no governo. Nunca os partidos e os governos, muito menos o Parlamento, estranhamente ignorante e absentista, ousaram pôr em causa o modelo e debater honestamente outras vias e alternativas.
Este modelo de escola é coerente com outra característica permanente do sistema educativo português: a sua opacidade e a sua impermeabilidade às influências externas, da sociedade em geral, dos cientistas, das universidades, das empresas, dos artistas e dos profissionais. Sabe-se hoje, por exemplo, que há graves defeitos de conteúdo, de ordenamento, de progressão e de método em várias disciplinas. Sabe-se que os manuais são em geral de má qualidade. Sabe-se que os programas pecam por excesso de matéria e de dificuldade. Como se sabe que muitos programas e manuais são dominados por concepções políticas e pelas modas. Perante esta situação, seria de aconselhar que pessoas qualificadas e independentes se debruçassem sobre os programas. Ora, o ministério (os governos e os partidos) recusa tal hipótese e repousa nas capacidades de criação e avaliação do próprio ministério e dos profissionais dependentes que formam as estruturas de decisão dentro daquele departamento governamental.
A instabilidade do corpo docente é outra causa de dificuldades pedagógicas e de mau funcionamento das escolas. Aquela tem como origem fundamental o facto de o recrutamento e a selecção dos professores não dependerem das escolas, nem das comunidades, mas do ministério, o que é coerente com o modelo “esclarecido”. Os docentes “pertencem” ao ministério, não às escolas. Apesar de alguma melhoria recente (três anos de contrato), a verdade é que a ligação dos professores à sua escola e à sua comunidade é frouxa, ténue e efémera. Só tarde na vida e na carreira de um professor é que essa ligação pode assumir uma dignidade mais sólida.
Em conclusão: estes são apenas alguns aspectos essenciais para formulação de uma política de educação. São temas a que escapa a maioria dos debates contemporâneos, pois a ortodoxia partidária e governamental tem obtido uma curiosa unanimidade. Ou, pelo menos, um consenso alargado. O fiasco evidente das políticas de educação seguidas há quarenta anos em Portugal não se fica a dever a erros intrínsecos das políticas de educação, mas sim às condições políticas gerais, assim como, sobretudo, à unanimidade das opiniões e dos programas relativamente à ordem estabelecida e ao modelo educativo consagrado. Há, sobre a educação em Portugal, toneladas de papel publicado, milhares de opiniões conhecidas. Mas há pouco trabalho independente de análise. Discute-se muito a educação, mas o debate está limitado ao acessório. O sistema de ensino, tal como ele é, e o modelo de escola vigente e predominante parecem tabus que condicionam as políticas de educação. Enquanto formos assim reféns, será difícil realizar um debate aberto e livre, sem constrangimentos. O que quer dizer que será difícil definir políticas de educação mais ajustadas às necessidades do país e dos seus cidadãos".

António Barreto

Veiga Simão, Maria Filomena Mónica e Nuno Crato num debate sobre Educação

A ver aqui.

sábado, novembro 29, 2008

A democracia segundo Jorge Pedreira

Jorge Pedreira afirmou hoje que o governo continua disponível para discutir o modelo de avaliação de professores, desde que seja respeitada uma condição prévia: que os sindicatos não apresentem condições prévias para negociar. Ou seja, as condições prévias só se aplicam aos sindicatos!

Lili Haydn - "Strawberry Street"

É só mais um caso isolado a somar a outros tantos casos isolados

"Artemisa Coimbra, professora de Inglês na EB 2/3 de Jovim, em Gondomar, foi ontem agredida a murro por um aluno de 16 anos que frequenta o 9º ano dos Cursos de Educação e Formação. Teve de ser transportada para o Hospital S. João, no Porto, tendo sido tratada na pequena cirurgia. À saída da Urgência ainda eram visíveis as marcas da agressão no olho.
O incidente ocorreu às 13h40, quando a professora saiu da sala dos professores rumo à aula. "Fui surpreendida pelo aluno a correr na minha direcção e a chamar-me de todos os nomes possíveis. Depois deu-me murros na cara", disse ao CM, Artemisa Coimbra, que é também responsável pelo Observatório de Mulheres Assassinadas, uma organização que combate a violência doméstica.
O incidente ocorreu depois de a docente ter levado o agressor ao Conselho Executivo, por este estar a dizer palavrões no interior da escola".

João Carlos Malta

Correio da Manhã

Mais um dos que pensa que a razão está do lado da ministra

"Bons espíritos aguardavam que da ronda negocial de ontem entre federações e Ministério da Educação brotasse um acordo, ou uma espécie de acordo, que pelo menos ajudasse a serenar os ânimos das partes em litígio. Os bons espíritos enganaram-se: das reuniões apenas brotou a agudização do conflito em torno do modo de avaliação dos professores. Como, de resto, seria de esperar. O problema central é há muito tempo evidente: só a "cabeça" da ministra satisfará por completo o íntimo desejo não dos professores, mas dos seus supostos representantes. Tudo o resto é poeira.
Havia dúvidas sobre isto? Mário Nogueira esclareceu-as ontem, à saída do encontro com Maria de Lurdes Rodrigues, quando pediu abertamente a demissão da ministra e, de seguida, apelou de peito cheio aos professores "com 'P' grande" para aderirem em massa à greve geral agendada para a próxima quarta-feira.
O que quer Mário Nogueira dizer? Duas coisas. Um: os professores com "p" pequeno que não aderirem à greve são criaturas inferiores que devem ser apontadas a dedo e estigmatizadas nas escolas em que leccionam (este muito torcido conceito da democracia mostra bem o estado a que este conflito chegou). Dois: o líder da Fenprof percebeu que a divergência está, agora, no "ponto de rebuçado". Quer dizer: os níveis de adesão à próxima greve são fundamentais para se perceber para que lado partirá a corda, de tão esticada que está. Se os professores ficarem em casa aos magotes, Mário Nogueira não se calará com o pedido de demissão da ministra. Se, porventura, a adesão for escassa (e o conceito de escassa é importante, uma vez que as expectativas estão muito altas), Mário Nogueira será obrigado a puxar pela cabeça para inventar novas formas de luta, porque esse seria um sinal de capitulação dos docentes.
Nada destes jogos deve, contudo, fazer esquecer o essencial. As etapas do tradicional processo de decisão foram todas queimadas durante as últimas semanas. Por isso, é tempo de o Governo seguir em frente e pôr em marcha a avaliação dos professores, fazendo publicar o respectivo decreto-regulamentar. Os docentes usarão, em resposta e até ao limite, se assim o entenderem, todos os recursos de protesto - e são muitos - que a democracia põe ao seu dispor. E, como são crescidinhos, arcarão com os custos de não cumprirem a lei. O que não pode acontecer, em nome dos interesses dos alunos e dos pais dos alunos, partes igualmente interessadas neste processo, é prolongar mais este percurso pejado de avanços e recuos.
Já chega de reclamar mais e mais diálogo. Esse tique "guterrista" dá um certo jeito à Esquerda avessa à tomada de decisões e à Oposição ao Governo. Mas tem o seu limite. No caso, o limite já foi há muito ultrapassado. O país precisa de seguir em frente".

Paulo Ferreira
JN

sexta-feira, novembro 28, 2008

Não houve acordo quanto à avaliação - FNE mantém greve

A Federação Nacional dos Sindicatos da Educação (FNE) mantém a greve de professores agendada para a próxima quarta-feira, depois de uma reunião com o Ministério da Educação ter terminado sem acordo quando ao processo de avaliação dos docentes.

Centros sem formação há um ano só apoiam avaliação

"Inactivos. O Estatuto da Carreira Docente determina que os professores terão de obter pelo menos 50 horas de formação, a cada dois anos, para evitarem penalizações na avaliação do desempenho, mas a reorganização da rede de centros está a gerar adiamento de cursos e preocupação.
Falta de oferta gera explosão na procura
O Estatuto da Carreira Docente determina que os 140 mil professores de escolas públicas terão de obter pelo menos 50 horas de formação, a cada dois anos, para evitarem penalizações na avaliação, mas os centros responsáveis não dão cursos há mais de um ano. Entretanto, têm estado apenas direccionados para o apoio à avaliação do desempenho.
No passado ano lectivo, o Ministério da Educação decidiu extinguir todos os 200 centros de formação de associações de escolas existentes e reduzir a rede através da fusão dos anteriores. Isto numa altura em que já estavam elaboradas as candidaturas ao apoio financeiro do Programa Operacional do Potencial Humano (POPH), que ficaram sem efeito com a reorganização da rede de centros, que deveriam ser homologados até Agosto. "Até ao momento, foram registados 92", informa Joaquim Raminhos, director do Centro de Formação de Escolas do Barreiro e Moita. "Com a reorganização, ainda não foi possível concorrer aos fundos do POPH. Há mais de um ano que não existem formações - isto apesar de o Ministério da Educação garantir que as acções de formação não pararam, inclusive através de serviços ministeriais - e antes de Janeiro não vai haver nada, o que gera o desespero em professores que vêem o tempo passar e têm a informação que precisam da formação para efeitos de avaliação."
Muitos professores decidiriam não esperar pela abertura dos novos centros, a que deve corresponder uma explosão na procura, e pagam as formações do próprio bolso. Nunca menos de 150 euros por curso de 25 horas. "Dinheiro pago por um serviço que o ministério é obrigado a fornecer", critica Luís Mateus, ex-representante dos centros da região de Lisboa e critico da reorganização do Governo, "que está a gerar dificuldades aos centros para conseguirem regressar à normalidade".
Em vez de formações, os centros estiveram no último ano a dar apoio à avaliação do desempenho, nomeadamente com acções de esclarecimento junto de conselhos executivos, avaliadores e professores avaliados. "Enquanto isso, não arrancaram os cursos para todos os grupos disciplinares existentes nas escolas, não só os tradicionais, como o Português ou a Matemática, como em novas áreas, como as tecnologias, que é uma das apostas do Governo." A este propósito, o coordenador do Plano Tecnológico da Educação (PTE), João Trocado da Mata, anunciou ontem que a formação e certificação de professores em competências de Tecnologias da Informação e Comunicação vai arrancar no primeiro trimestre de 2009.
Acções contabilizadas
Críticos do actual modelo de avaliação, os movimentos independentes de professores defendem o regresso ao regime anterior de progressão na carreira, em que o professor tinha de reunir créditos para passar de escalão. O que não seria praticável neste momento, em que os cursos de formação contínua estão parados. "
Além disso, o Ministério da Educação informou que as formações realizadas antes de 2005/2006, ano em que as progressões foram congeladas, iriam ser contabilizadas na avaliação. Importa perceber o que aconteceria àqueles professores que não têm acções anteriores a 2005 e que não as conseguiram fazer nos últimos dois anos por falta de oferta", questiona Mário Machaqueiro, da Associação em Defesa do Ensino".

DN

quinta-feira, novembro 27, 2008

Modelos

Áurea Sampaio
Visão

quarta-feira, novembro 26, 2008

Obviamente, demitam-se!


"Em três anos, conseguiram instalar o caos nas escolas públicas. Já não discuto as intenções, nem as causas; limito-me a registar as consequências: professores furibundos e insubordinados, que nenhum sindicato ou conselho executivo consegue já controlar; alunos nervosos e insurrectos, à espera do menor pretexto para fazerem desacatos; pais perplexos e divididos. Eu sei que o governo não desejava isto. Mas a realidade é esta e está à vista de todos. No caos, ninguém ensina e ninguém aprende e o processo educativo converte-se num pesadelo diário. As escolas públicas precisam urgentemente de paz. E precisam de um novo fôlego motivacional. Maria de Lurdes Rodrigues, Valter Lemos e Jorge Pedreira deixaram de ser parte da solução, para passarem a ser, simplesmente, o problema. Se são pessoas de bem e ainda querem o melhor para as escolas e para o país, só lhes resta um caminho: pedirem a demissão e darem o lugar a outros. E quanto mais depressa, melhor".
http://abnoxio.weblog.com.pt/

Um cadáver político


Santana Castilho
Público

terça-feira, novembro 25, 2008

segunda-feira, novembro 24, 2008

Suspensão ou simplificação?

Esta noite, no "Prós e Contras", debate-se a avaliação docente. A não perder.

domingo, novembro 23, 2008

A sorte da ministra

Expresso

Aplicar o modelo de avaliação a outras profissões

Alberto Diamantino Costa
Encarregado de Educação
Expresso

Confap - O outro parceiro

"Salvo as devidas, e raríssimas, excepções, a Educação não está a ser discutida por gente muito educada, pois não? Nem falo dos alunos indignados, já que os pobres não imaginam com quê ou com quem. Mas os jornalistas dedicam à ministra do ramo a arrogância que escondem no contacto com os restantes intervenientes da "luta". A ministra responde aos jornalistas com arrogância similar. Os professores na rua, pelo menos alguns dos que as televisões mostram, garantem que a dra. Maria de Lurdes "é feia" (sic). E Mário Nogueira, típico sindicalista indígena, dispensa comentários.
De longe, porém, o mais excêntrico dos "parceiros sociais" (desculpem o termo) é uma tal Confap, indistinguível do senhor que a preside. Se é público que a Confap é a Confederação Nacional das Associações de Pais e o presidente um sr. Albino Almeida, a natureza de ambos permanece um mistério. O que são? De onde vêm? Para onde vão? O "site"da Confap jura tratar-se de uma estrutura "independente", empenhada em "estudar os problemas relativos à formação global dos jovens" e "intervir junto dos poderes", informações algo vagas. Fora do "site", lembrei-me de dois ou três pormenores sobre a Confederação: costuma opor-se à avaliação e à reprovação das criancinhas; esforça-se por manter as criancinhas presas em "actividades extracurriculares"; defende que as criancinhas "são biologicamente nossas, mas socialmente de toda a comunidade"; certa ocasião, ameaçou processar os blogues que divulgaram o financiamento estatal que, na verdade, recebe. É pouco? Chega.
E sobra. Isto não faz um "parceiro social", faz uma paródia inadvertida dos piores delírios do ministério e dos piores pais. Em lugares menos exóticos, a Confap serviria no máximo de "sidekick", o figurante que dá as deixas essenciais às piadas. O esquisito é que ninguém, na balbúrdia egocêntrica em que o debate do ensino se transformou, aproveita as primeiras para dizer as segundas. Aqui, uma organização como a Confap é ouvida, comentada e levada a sério, o que não tem graça nenhuma. Ou tem, se formos particularmente perversos e, além disso, pudermos pagar escolas privadas".

Alberto Gonçalves
DN

sábado, novembro 22, 2008

A escola e a qualidade da educação

"Para se compreender o mal-estar que hoje grassa nas nossas escolas é preciso conhecer o que lá se passa, nas salas de aula, nos corredores, nas cafetarias, nos recreios, nas salas de professores, nos gabinetes dos conselhos executivos, sob pena de continuarmos a negligenciar a educação e a empenhar o sucesso dos nossos alunos, entendendo-se por "sucesso" tudo aquilo que possa vir a beneficiar um aluno quer em termos de aprendizagens quer em termos de atitudes e de preparação para a cidadania. Contudo, a grande ênfase tem sido dada não à procura desse conhecimento mas a outros factores de índole política, social e económica, olvidando-se que a educação de qualidade se processa nas escolas. Se a melhoria do ensino é uma prioridade, então será com base nas escolas que ela se processará e nunca através de um processo político baseado em premissas que se afastam dos interesses dos alunos, das famílias e dos professores. É da responsabilidade da comunidade escolar - professores, executivos, agentes especializados e pais - a organização de actividades multifacetadas que favoreçam o processo educativo, numa constante procura da excelência, excelência essa que só será atingida por aqueles, e só por aqueles, que fazem parte da realidade educativa que cada escola prefigura. Seja qual for a concepção de educação, a excelência só se obtém através de um processo educativo de qualidade sedeado nas escolas e não fora delas.
Este facto, geralmente reconhecido pela maioria dos professores e dos pais, continua à margem das esferas sociais e políticas, levando a mal-entendidos que, como temos tido a oportunidade de verificar, têm dominado a discussão pública. O desafio com que os professores, os alunos e os pais se têm vindo a confrontar tem-se mostrado de uma dificuldade extrema, tantas têm sido as pressões a que eles têm sido expostos, sem que elas se identifiquem com objectivos e processos educativos de qualidade. E se as expectativas e aspirações dos alunos podem, eventualmente, ser inculcadas por factores externos, será o ambiente escolar, com toda a carga que esta expressão acarreta, que virá a acentuar as suas capacidades e a moldar os seus comportamentos pela vida fora, reflectindo-se em contributos, mais ou menos positivos, nas comunidades onde vierem a inserir-se. A educação, de facto, será, assim, o resultado das aprendizagens que ocorrem durante o processo formal de ensino acrescido das experiências informais a que os alunos são expostos nas escolas. Deste modo, a maioria das aprendizagens dos alunos, bem como a sua qualidade, depende dos esforços conscienciosos, abnegados e laboriosos dos professores, sem os quais, provavelmente, a educação nunca se processará integralmente.
Assim sendo, o dilema que ora se nos coloca, com um braço-de-ferro declarado entre os professores, os alunos (e os seus pais?) e a ministra da Educação, traz consigo prejuízos avultadíssimos para os alunos e sequelas que, caso a situação continue, podem revelar-se desastrosas em termos de resultados escolares. Esta situação, sem precedentes nas últimas décadas, não emerge, subitamente, com o problema da avaliação dos professores, mas é consequência de uma política educativa infeliz que nos últimos anos tem contribuído para a degradação do ensino no País. Os erros têm-se sucedido, traduzidos numa catadupa de decisões políticas nada consentâneas com os resultados da investigação mais recente, apoiada em práticas educativas eficazes, por oposição a deliberações que, meramente, pretendem soar convincentes. Não soam. E por não soarem é que, cada vez mais, as carruagens se afastam da locomotiva ao ponto de poderem prescindir dela".

Luís de Miranda Correia
Professor Catedrático da Universidade do Minho
DN

Pacheco Pereira analisa a ministra da educação, os professores e os sindicatos


Sábado

sexta-feira, novembro 21, 2008

quinta-feira, novembro 20, 2008

Mais uma sessão de propaganda

Numa operação de charme a Ministra da Educação veio a terreiro procurar convencer a opinião pública da sua imensa bondade, apresentando um conjunto de medidas que permitem descomplicar o modelo de avaliação docente. Decidiu simplificá-lo porque finalmente percebeu (só agora?!) que as escolas estão a ter dificuldades na sua implementação, ainda que na sua douta opinião, estas dificuldades derivem da inabilidade dos professores que não o souberam interpretar. Esta simplificação em nada altera o essencial do modelo que continua a ter como objectivo único institucionalizar uma cadeia hierárquica dentro das escolas e impedir a progressão na carreira à maioria dos professores. Perante tal inflexibilidade da ministra, resta-nos continuar a lutar pela abolição deste modelo, o que permitiria o restauro da normalidade no quotidiano escolar e o recentrar da atenção dos professores naquilo que é realmente importante: ensinar.

Grande reportagem sobre a vida docente - Revista Visão (I)




Grande reportagem sobrea vida docente - Revista Visão (II)
















Ricardo de Araújo Pereira na Visão

quarta-feira, novembro 19, 2008

O "diálogo" segundo o Ministério da Educação

"(...) primeiro o ME põe a cassete a tocar, depois os restantes participantes dizem coisas distintas e o ME faz o fecho, terminando com a elaboração das conclusões do encontro, que são iguais ao conteúdo da cassete de abertura".

Anónimo

Simplesmente impressionante!


I think he Can Dance - Watch more Entertainment

Balanço do debate na SIC Notícias

O debate foi um "flop". Os colegas que nos representaram ficaram aquém das expectativas. Os aspectos mais tenebrosos deste modelo de avaliação não foram devidamente explorados. Apresentaram-se muito brandos, muito educados, aparentemente com receio de ferir susceptibilidades. Fica a impressão de que fizeram um pacto de não agressão. Em resumo: foi uma oportunidade perdida no que concerne ao esclarecimento da opinião pública.

terça-feira, novembro 18, 2008

Aprender...com os professores

"O pior cego é o que não quer ver. O Governo não pode continuar a afirmar que os professores não querem ser avaliados ou que estão a ser instrumentalizados pelas variadas oposições. Três manifestações em menos de um ano e sindicatos arrastados por movimentos independentes só podem querer dizer que a escola está a funcionar mal.
O mundo do ensino não pode estar recheado de professores que não querem trabalhar, que querem faltar, que não querem ser avaliados, que não querem que os seus alunos sejam bem sucedidos e passem de ano, que estão ao serviço de sindicatos ou oposições ao Governo.
É preciso começar a apelar ao bom senso de quem governa. A cegueira de não querer ver anda de mãos dadas com batalhas contra moinhos de vento, inimigos que se vêem por todo lado, como se quem governa estivesse isolado e fosse o único interessado na prosperidade e progresso do país. As verdades absolutas contribuem mais para o retrocesso que para o progresso, como nos revelam vários casos históricos. O permanente estado de crispação entre a ministra da Educação e os professores está a fazer pior ao ensino, nesta fase, que o bem que faria o novo estatuto ou a avaliação dos professores.
Ninguém com o mínimo de seriedade é contra a mudança na cultura da escola. Todos queremos uma escola em que o trabalho e mérito de professores e alunos sejam premiados. Todos queremos uma escola que ensine melhor e onde não se permita o que estivemos anos a ver, um grupo de professores dedicados, sem qualquer retribuição por isso, enquanto outros - em regra uma minoria - usavam o ensino como meio de ter um rendimento, ou antes, uma renda, ao fim do mês.
Querer não é suficiente para ter. É necessário conseguir concretizar as mudanças sem que a transformação destrua o património fundamental para que o novo ensino não acabe pior que o velho, apesar de todos os bons desejos.
Mudar é sempre difícil, para quem lança a mudança e para quem é alvo dela. Mas a política é isso mesmo, a capacidade de mudar o possível no tempo certo e com o mínimo de contestação. Compreendendo a dor que significa mudar para quem está no terreno e não caindo na tentação de ver em cada obstáculo mãos de opositores que apostam apenas no fracasso.
A ministra da Educação revelou desde o primeiro momento grande capacidade para lançar a mudança no ensino. Mostrou ser menos capaz em ouvir e compreender os custos da reforma no ensino, ajustando a sua velocidade ao ritmo possível da escola.
Não se muda o funcionamento de uma escola por decreto. Quando se lê o decreto regulamentar publicado em Maio deste ano e os diversos esclarecimentos do Ministério da Educação percebe-se, mesmo conhecendo mal o funcionamento actual das escolas, as dificuldades que os professores, avaliadores e avaliados, estão a enfrentar.
Uma escola onde o professor basicamente "dava aulas" não se transforma de um dia para o outro, por vontade política, numa escola participada por professores e alunos, numa organização com vida própria, com todos os procedimentos que isso exige.
É preciso abandonar a cegueira ditada pelo medo de ser dado como vencido. A escola e os professores precisam de apoio para concretizarem a mudança".

Helena Garrido
Jornal de Negócios

Professores vão estar esta noite num debate na SIC Notícias

Quatro professores vão estar esta noite na SIC Notícias, pelas 23 horas, num debate sobre a avaliação docente.

Entrega de objectivos individuais on-line

A anunciada aplicação informática para entrega dos objectivos individuais já se encontra aqui, mas é fundamental que nenhum professor proceda ao seu lançamento. Nesta fase da nossa luta deitaríamos tudo a perder se o fizéssemos. Aliás, é bom que se diga que esta medida é ilegal pois vai contra ao que a legislação diz relativamente à privacidade da avaliação.

Conselho das Escolas pede à ministra que suspenda a avaliação

A maioria dos professores presentes ontem na reunião do Conselho de Escolas com a ministra da Educação aprovou um documento pedindo à tutela que suspenda o processo de avaliação de desempenho.
O documento foi aprovado por 30 votos contra 23, sendo esta mais uma posição que fragiliza Maria de Lurdes Rodrigues na sua teimosia em manter este modelo de avaliação docente. Por esta altura, a tutela já só tem o apoio da CONFAP, devido a razões que se entendem perfeitamente.

segunda-feira, novembro 17, 2008

A desmontagem perfeita relativamente à "clarificação" do Estatuto do Aluno

"O Governo emitiu ontem um despacho para “clarificar” o Estatuto do Aluno. Clarificar é um eufemismo. O despacho altera materialmente o disposto na lei e cede às pretensões dos estudantes e oposição, pondo um ponto final no exame com carácter reprovatório para os alunos com faltas justificadas. Para salvar o que resta da face de um ministério moribundo, o secretário de Estado responde que a confusão teve origem nas escolas. Os regulamentos “não eram claros sobre essa questão”, diz Valter Lemos. Mesmo a desonestidade intelectual tem limites. O Estatuto do Aluno é bem claro e permitia, até hoje, a reprovação dos alunos com faltas justificadas.
É só comparar o que diz o despacho com o Estatuto do Aluno.

Ponto 5 do despacho do ME: “Da prova de recuperação realizada na sequência das três semanas de faltas justificadas não pode decorrer a retenção, exclusão ou qualquer outra penalização para o aluno, apenas medidas de apoio ao estudo e à recuperação das aprendizagens, sem prejuízo da restante avaliação”.

Artigo 22.ª, 2, do Estatuto do Aluno: “Sempre que um aluno, independentemente da natureza das faltas, atinja um número total de faltas correspondente a três semanas no 1.º ciclo do ensino (…) deve realizar, logo que avaliados os efeitos da aplicação das medidas correctivas referidas no número anterior, uma prova de recuperação, na disciplina ou disciplinas em que ultrapassou aquele limite, competindo ao conselho pedagógico fixar os termos dessa realização.

Artigo 22.ª, 3, do Estatuto do Aluno: “Quando o aluno não obtém aprovação na prova referida no número anterior, o conselho de turma pondera a justificação ou injustificação das faltas dadas, o período lectivo e o momento em que a realização da prova ocorreu e, sendo o caso, os resultados obtidos nas restantes disciplinas, podendo determinar:

b) A retenção do aluno inserido no âmbito da escolaidade obrigatória ou a frequentar o ensino básico, a qual consiste na sua manutenção, no ano lectivo seguinte, no mesmo ano de escolaridade que frequenta;

c) A exclusão do aluno que se encontre fora da escolaridade obrigatória, a qual consiste na impossibilidade de esse aluno frequentar, até ao final do ano lectivo em curso, a disciplina ou disciplinas em relação às quais não obteve aprovação na referida prova”.

O Ministério da Educação tem razão num ponto. O despacho é clarificador. Sobre a incompetência legislativa da sua equipa e sobre o peso político que lhe resta. Mais leve que um ovo".

Pedro Sales
http://arrastao.org

A batalha dos ovos

"O país das escolas está a ferver. Os professores nas ruas. Os estudantes encerram escolas. A ministra promete que não verga. O primeiro-ministro promete que verga. Os sindicatos estão de cabeça perdida. O governo embasbacado. O Presidente da República vem pedir que tenham calma. Faz-me lembrar um adepto a pedir calma a uma claque enfurecida. A verdade é que as imagens que chegam espelham um conflito grave e revelam episódios bem tristes com estudantes, desbragados, a atirar ovos contra membros do Governo.
Nada disto faz sentido trinta anos depois da Democracia. Depois de muitos governos reformarem, depois de muitos professores protestarem, depois de muitos sindicatos reivindicarem, não faz sentido que uma querela laboral se transforme numa batalha campal de ovos e tomates.
Podem os professores ter razão nos protestos contra a avaliação. Pode, até, a ministra ter razão na sua intransigência radical. Ou pode ninguém ter razão. Mas a verdade é que quando deflagra um conflito destas dimensões creio que a única solução é o debate e a discussão aberta e franca sem que o poder ganhe radicalidade nem os manifestantes a falta de gosto a que temos assistido nos últimos dias. O exercício do debate democrático não retira privilégios a quem detém o poder. Pelo contrário, enobrece-o. Assim como a exigência legítima de condições dignas de avaliação de trabalho não pode deixar indiferentes os pais de muitos estudantes que percebem a necessidade de fazer regressar à escola a tranquilidade, a alegria de aprender e também a alegria de ensinar. Professores tristes, em luta, indignados, não é o modelo de professor mais adequado às exigências do futuro. E as crianças, aqueles a quem se destina o subsistema de educação, terão de estar acima de indignações profissionais e de pesporrênciasministeriais. Neste momento tão crítico do sistema educativo, não tenho a menor dúvida de que só o regresso ao espírito da democracia, ao espírito da tolerância e da inteireza democrática, pode devolver a dignidade a todo este processo.
Há momentos da nossa vida em que é preciso parar para pensar. Julgo que o Governo e os professores chegaram a esse momento de tomar decisões que motivem os professores, que não ignorem a legitimidade do Governo mas que, acima de tudo, devolvam à escola o que é da escola: aprender".

Francisco Moita Flores

Correio da Manhã

sábado, novembro 15, 2008

A ministra da educação em entrevista ao Expresso


Mais um a zurzir na ministra

Público

Os sindicatos, entre governo e professores

"1. Primeiro, o descontentamento veio de muitos militantes.

Depois ouviu-se a voz de Manuel Alegre.

Agora, a incomodidade socialista face ao protesto dos professores estendeu-se também a António Costa, o antigo n.º 2 do Governo.

Pelo meio, até o Presidente da República, sempre parco nas palavras que lança geometricamente, veio reconhecer o "direito constitucional à manifestação".

Quer tudo isto dizer que o primeiro-ministro, por muita solidariedade que demonstre à sua colaboradora para a área da Educação e das escolas, tem um problema delicado entre mãos chamado Maria de Lurdes Rodrigues.

Com um ano eleitoral à porta, e uma maioria absoluta que as sondagens demonstram ser possível, José Sócrates não pode deixar de estar a avaliar todos os cenários. Todos.

2 . O problema não é só a segunda manifestação dos professores ter contado de novo com mais de cem mil pessoas, mobilização que não parece estar hoje ao alcance de nenhuma central sindical, apesar das condições propícias geradas pela crise.

O verdadeiro problema reside na possibilidade do iminente colapso do polémico sistema de avaliação em resultado de uma desobediência generalizada nas escolas, o que hoje também é reclamado pela Fenprof e o seu ambicioso líder, Mário Nogueira, que tem reforçado o seu peso no PCP e está na primeira linha de sucessão a Carvalho da Silva, na CGTP.

A este propósito deve dizer-se que os sindicatos têm sabido, com habilidade, não perder a orientação deste movimento, que obviamente vai muito para além de qualquer partido e é transversal às diversas correntes políticas. Essa é, aliás, a base da sua força. E é incompreensível, também por isso, a falta de tacto político revelado pela ministra.

3 . A qualidade do ensino e a paz nas escolas deveriam obrigar as partes a sentarem-se à mesa, mas aqui reside um dos dramas deste processo.

Quem, na verdade, representa este movimento? Quem pode ser parceiro fiável do Governo na resolução da crise?

Como se viu depois da manifestação de Março, os sindicatos assinaram com o Governo um acordo que não estão a cumprir porque as reivindicações dos professores os ultrapassaram. Esta é uma luta original igualmente por esse facto: talvez pela primeira vez em Portugal, são os sindicatos quem corre a enquadrar um movimento espontâneo dos trabalhadores de um determinado sector.

Este facto, no entanto, levanta o tal problema de representatividade. Se o acordo não resolveu a questão de fundo e a avaliação continua a merecer o repúdio maioritário dos professores, quem são as partes e como se encontram? Que têm os sindicatos, desta vez, para oferecer a ambos os lados na vista de uma solução - e quererão mesmo encontrá-la?

4 . Maria de Lurdes Rodrigues, por muito que desagrade a alguns professores reconhecê-lo, tem produzido trabalho à frente do ministério. É pena que se tenha deixado barricar, sem necessidade, neste preciso modelo de avaliação, cujo repúdio faz a união dos professores.

Depois de ter liderado o reconhecimento do essencial - que quem ensina deve ter um sistema que classifique, distinga e guie a progressão na carreira -, deverá igualmente entender que está a pedir mais do que aquilo que os professores podem dar nesta fase.

Chegados a este ponto, a estratégia dos pequenos passos, seguros e simples, tem de ser a marca condutora da introdução da avaliação. Haverá tempo para refinar o processo, depois de os professores se sentirem confortáveis e perceberem o que tem a ganhar com ele.

Todos os agentes deste conflito, sem excepção, precisam de assumir as respectivas responsabilidades e reconhecer o essencial: é necessário promover a qualidade do ensino e tirar os ovos das mãos dos alunos e devolver a paz às escolas.

A ministra daria um bom exemplo se descesse ao terreno e voltasse a negociar".

João Marcelino
Director do DN

sexta-feira, novembro 14, 2008

Angústia nas escolas

"Partir os dentes aos sindicatos ou tirar a Sócrates a maioria absoluta é o que parece estar em jogo na luta político-partidária. Mas a questão dos professores é outra. A degradação da escola pública, o aniquilamento dos seus docentes e o idiotizar dos alunos são perigos. Os cidadãos têm de pensar em prevenir o futuro das gerações e do País.
A situação é preocupante. Entra pelos olhos dentro que o desfile de uma centena e tal de milhares pela avenida da Liberdade não é um milagre dos sindicatos. Os sindicatos estão sim a aproveitar a revolta e angústia dos professores aflitos com o kafkiano dilúvio de despachos despejados pelo Ministério da Educação.
O pesadelo que se vive nas escolas não dá para acreditar: para além de reuniões esgotantes e interpretação de objectivos impenetráveis, pela confusão entre desempenho individual e actividades colectivas, os professores enfronham-se na elaboração de ‘portofolios’ com 15 separadores, que obrigam a comprar dois dossiês porque nos supermercados não há capas com mais de 12 divisões. O retrato da tragi-comédia é estar esgotado um ‘Guia de Avaliação do Desempenho do Docente’, livro de 96 páginas acompanhado de um CD-ROM com "propostas práticas para cada interveniente". Na província, onde as disponibilidades são melhores, o guia não é conhecido e poupa-se à obsessão do ‘portfolio’. À sua maneira define que o melhor para satisfazer o Ministério é dar 3 a todos os alunos.
O ensino precisa de outras mentalidades. Na situação actual é impossível tornar a ver professores públicos como aquele que há umas dezenas de anos apostou em empurrar para o liceu o filho de famílias humildes que é hoje o empresário de êxito Belmiro de Azevedo. Subir na vida tornou-se mais apertado. É preciso investir na educação dos filhos como fez a avó de Obama: meteu-o numa escola privada cara, com toda a convicção de que o primeiro presidente negro dos EUA conseguisse depois ganhar asas e com o apoio de bolsas e aplicação ao estudo concretizasse um sonho à americana com diplomas de excelência em universidades como Columbia e Harvard.
A angústia dos professores lembra para azar do País as anedotas do comunismo: dois cidadãos desesperados com o desgraçado rumo da vida perguntaram a um chefe partidário quem inventara o socialismo científico. Um político ou um cientista? A resposta foi um político. Logo um disse para o outro: "Eu não te disse, se fosse um cientista tinha experimentado primeiro em animais."

João Vaz
Correio da Manhã

Um ministério autista


quinta-feira, novembro 13, 2008

Qual "pesadelo burocrático"?

"Um responsável do SINDEP revelou ao DN, ilustrando o modelo de avaliação da ministra Lurdes Rodrigues, o caso concreto de uma professora com 9 turmas e 193 alunos que vai ter que introduzir manualmente no computador 17 377 registos e fazer 1456 fotocópias, além de participar em algo como 91 reuniões. Contas feitas, a 1 minuto por registo, e visto que a professora é um Usain Bolt informático, e não dorme nem come, nem se coça, nem se assoa, inteiramente entregue à avaliação, são 290 horas, isto é, 12 dias (noites incluídas).
Já 1456 fotocópias a 1 minuto cada (tirar o papel do monte, pô-lo na bandeja da fotocopiadora topo de gama da escola, esperar que saia fotocopiado e colocá-lo noutro monte), levam-lhe mais um 1 dia (noite incluída). E 91 reuniões, também de 1 minuto, mais 91 escassos minutos. Ao todo, a professora fará a coisa em pouco mais de 13 dias (noites incluídas). Qual "pesadelo burocrático" qual quê! No fim ainda lhe sobrarão, se alguém a conseguir trazer do cemitério ou do manicómio, 152 dias para dar aulas, aprovar os 193 alunos e contribuir para as estatísticas da ministra".

Manuel António Pina, JN

O que é preciso para avaliar?

"Difícil de gerir, difícil de mudar, o sector da Educação tem constituído nas últimas décadas um campo de ensaio de um experimentalismo infeliz. Como de nove em nove anos hipotecamos uma geração, a transformação deste espaço em permanente campo de batalha, num processo de desrazões, constitui hoje a mais cara factura que o país terá de pagar ao seu próprio futuro. O processo educativo devia ser uma área de tréguas e consensos, poupada à demagogia e ao aproveitamento político-partidário e protegida de visões sectoriais, seja a do ministério ou a da máquina, seja a das corporações ou a dos sindicatos, seja a dos pais ou a dos alunos.
A avaliação dos professores só faz sentido num sistema que seja capaz de se avaliar a si próprio. Quanto vale um bom professor num mau sistema? Que causas estão na origem do insucesso escolar ou do abandono precoce da escola que possam caber, exclusivamente, numa grelha de avaliação do desempenho do professor? E que factores se mantêm constantes, independentemente da envolvente da escola ou da caracterização social da sua população?Também não vale a pena querer, no ponto em que nos encontramos, dividir simplisticamente a questão entre aqueles que querem avaliar e aqueles que não querem ser avaliados. Num país onde quase nada é avaliado, onde quase ninguém sofre as consequências dos seus actos (excepto os pobres diabos...), onde se pode deixar, impunemente, falir bancos cuja nacionalização parece um branqueamento, onde a má gestão pública e a incompetência dos decisores políticos não é sequer quantificada economicamente, onde os prémios e outros "estímulos" são assumidos como complementos salariais e as despesas de representação servem para pagar hábitos caros, parece aconselhável falar de avaliação com menos retórica e mais bom senso.
Aceite o salutar princípio da avaliação convenhamos que não é de somenos o modelo adoptado. E aqui, interrogo-me como se avaliam os professores em Inglaterra ou em Espanha (para referir um país latino)? Será que temos que inventar um sistema de avaliação rigorosamente português, inequivocamente original e nosso?
É que connosco tudo começa com um aumento da carga burocrática que só serve para desviar os profissionais daquilo que é o seu verdadeiro conteúdo funcional: é assim com os profissionais de saúde imersos em papelada, ou com os agentes de segurança, amarrados, na melhor das hipóteses, a um teclado de computador e é, também, já assim com os professores. E a experiência ensina-nos que a burocratização da habitualidade e do quotidiano tem em si o germen do fracasso. E quem são os avaliadores? Que perfil devem ter e que capacitação? E quem avalia os avaliadores? E os critérios serão os melhores, e objectivos, como se impõe? Para tudo isto deve haver uma resposta, imagino eu, mas ou não foi dada ou não está a ser ouvida. Em qualquer dos casos a situação deteriora-se com a opção da rua como o fórum próprio, a tentativa do Governo em transformar este protesto numa fuga à avaliação por parte dos docentes e, o que me parece mais grave, o permanente desviar das atenções, energias e recursos da função principal que é a de educar. E essa é que é a questão. Na batalha campal da avaliação vai-se perdendo tempo, razões e a própria perspectiva do que realmente está em causa e que vai muito para além do que se vê: quem não se lembra de como os sucessivos governos caíram na tentação de tapar as deficiências do sistema educativo com o artifício das estatísticas? E do extraordinário estatuto disciplinar do aluno, aprovado no primeiro Governo de Guterres, que consagrava um aluno visto como um pequeno animal doméstico mal ensinado e retirava aos professores toda a autoridade, componente essencial da dignidade e eficácia do seu magistério? E as medidas facilitistas que foram eliminando provas, esforços e méritos? Fraquezas, tentações e erros que estão, agora, a pagamento".

Maria José Nogueira Pinto
DN

quarta-feira, novembro 12, 2008

Capricho e soberba

"Cento e vinte mil mil professores na rua não emocionaram o Governo. A ministra e Sócrates afirmaram-se renitentes nas decisões tomadas: é assim que dissemos, é assim que fazemos. Capricho, desdém e alarde não constituem excepção neste Executivo, o qual, sem ser, notoriamente, socialista, também não é carne nem peixe nem arenque vermelho. Mas 120 mil pessoas indignadas não são a demonstração de uma birra absurda nem a representação inútil de uma frivolidade. A cega teimosia de Sócrates pode, talvez, explicar que não está à altura do seu malogro, mas sim do seu umbigo. Porque de malogro e de narcisismo se trata. A qualidade de um Governo afere-se pelo grau de comunicabilidade que estabelece com os outros, e pelo sentido ascensional que possui do tempo e do espaço para elevar a vida colectiva. Sócrates esqueceu-se, ou ignora, que o homem é ele e a sua circunstância, como ensinou Ortega. E que num político a circunstância é criada por ele próprio, sem negligenciar os outros. A verdade é que não conhecemos os seus desígnios criativos, mas sim as variações desafortunadas da sua política.
Há tempos, João Lopes, o amigo e o crítico por igual excelente, dizia-me que Portugal tinha falta de compaixão. A palavra "compaixão" adquiria o sentido de simpatia e compreensão pelo outro. É verdade. Ausentamo-nos e negamo-nos, escarnecemo-nos e desprezamo-nos, deixámos de nos ouvir uns aos outros; nem transeuntes somos: trespassamo-nos porque dissipámos a consistência e, acaso, a ternura. Com a nossa desmedida indiferença permitimos o nascimento de gente presumidamente detentora da verdade. A soberba de Sócrates, ante o protesto dos 120 mil, advém, certamente, desse sombrio e feio convencimento. Em Fevereiro de 1947, quando, em França, se preparavam eleições, Camus escreveu, no Combat, um texto que assim começava: "Os problemas que há dois anos nos excedem vão cair no mesmo impasse. E, sempre que uma voz livre procurar afirmar, sem pretensões, aquilo que pensa, logo uma matilha de cães de guarda, de todas as cores e feitios, começará a ladrar furiosamente, para abafar o eco dessa voz." Em consciência, a impassibilidade de José Sócrates e a crispada frieza de Maria de Lurdes Rodrigues podem abafar o eco de 120 mil vozes, que protestam muitas razões de que não é preciso reter senão as mais importantes? Um Governo que recusa, constantemente, a obrigação de ouvir o outro, admite a possibilidade do direito à desobediência. A rigidez decisória não conduz ao apaziguamento e distancia-se dos verdadeiros interesses, criando rancores e ressentimentos desnecessários e duradouros. Conversar, escutar, dialogar, debater, por vezes com furor e impaciência, é solução muito mais eficaz do que alimentar uma inconsiderada teimosia, de consequências imprevisíveis".

Baptista Bastos
DN

E se no dia 15 voltasse a ser assim?




terça-feira, novembro 11, 2008

A mentira compulsiva

Sinal de que vivem momentos de pânico, a tríade do ministério da educação, não tem tido parança. Desdobram-se em declarações, onde a mentira e o insulto estão sempre presentes. Aliás, há que dizê-lo, estas criaturas têm evidenciado, ao longo dos tempos, uma compulsiva vontade em mentir. Começa a ser notório que mentem pelo prazer de mentir. Não perdem sequer uma oportunidade para dizer mais uma e outra mentira. A mentira faz-lhes bem à alma. Chega até a haver alturas em que eles parecem acreditar piamente no que estão a dizer. Criam uma lógica imaginária e passam a vivenciá-la como se realidade fosse. Esta tendência mórbida à mentira tem uma denominação: mitomania. Em muitos casos, esta patologia precisa de tratamento psiquiátrico, especialmente quando estas mentiras têm consequências gravosas para as outras pessoas. Tendo em conta os prejuízos que estas mentiras vêm causando no sistema educativo, é urgente que esta gente recorra a auxílio médico e seja afastada das funções que desempenha até recuperarem a sanidade mental. A bem da nação!

A ministra dos milagres

"Os professores portugueses parecem ter ganho o gosto às avaliações, e 120 mil (há oito meses foram "apenas" 100 mil) avaliaram de novo a ministra e a "sua" avaliação. Depois do milagre estatístico da Matemática, Lurdes Rodrigues conseguiu proeza ainda mais improvável, a da unanimidade dos professores. Se isso não chega para a sua beatificação - que Sócrates tem em marcha - vou ali e venho já. 120 mil professores na rua (uns "míseros votos", como lhes chamou Sócrates) contra o naufrágio do sistema educativo e o pesadelo burocrático em que foi transformada a sua profissão, e gritando "deixem-nos ser professores" não é sinal de descontentamento, é algo mais profundo.
Ou deveria ser, para quem tivesse um mínimo de humildade democrática e não confundisse firmeza com auto-suficiência e poder com mando. Se a passagem de Lurdes Rodrigues pelo ME constitui um "study case" de incapacidade técnica e autismo político, a reacção praticamente unânime dos professores em defesa da dignidade da profissão docente é um exemplo de cidadania activa cada vez mais raro no "país em diminutivo" em que nos tornámos".

Manuel Antonio Pina
JN

segunda-feira, novembro 10, 2008

Ainda há quem esteja com os professores

Vale a pena ouvir os "Sinais" de hoje na TSF. Sob o título "O abismo", Fernando Alves, consagrado jornalista desta estação radiofónica, faz um retrato acutilante do que se está a passar. Ouvir aqui.

domingo, novembro 09, 2008

ESQUERDA.NET | Grande Manifestação 120 Mil Professores





Como a opinião publicada vê o confrontro entre ministério da educação e os professores (III)

José Manuel Fernandes
Público

A marcha da indignação

















Como a opinião publicada vê o confronto entre o ministério da educação e os professores (II)

"Largos milhares de professores manifestaram-se ontem em Lisboa, pondo em causa o sitema de avaliação, a ministra, o próprio Governo.
Não vale a pena, aos críticos, invocar a impecável organização sindical pois até os partidos funcionam hoje assim: quando a "fé" escasseia, ou quando se quer ter a certeza que a coisa não falha, não há como uns autocarros e uns farnéis para manter a militância no alto.
É hoje óbvio para toda a gente que entre professores e ministra a corda partiu há muito. Mas, podendo a razão não estar do lado dela, é inequívoco que está a seriedade, porque Maria de Lurdes Rodrigues aceita fazer um balanço do processo de avaliação no final do ano e introduzir alterações para 2010. Os professores é que não, pois pretendem rebentá-lo desde já. É bom que se saiba que, por muitos professores que desçam e subam a Avenida da Liberdade, há escolas em que o processo de avaliação está a correr bem. São a maioria. E é bom que se saiba também que, no ano passado, 16 mil avaliações feitas revelaram 7% de professores cujo desempenho não era correcto. Só esta indicação é um bom motivo para continuar, não é? Ontem, na TSF, uma professora dizia que muitos professores investidos em avaliadores andam muito senhores de si por lhes ter sido atribuído esse pequeno poder. É possível, não custa a crer que sim. E custará a crer que alguns professores foram tomados de ataque de invejite por serem avaliados por pessoas com as quais certamente não simpatizam?
Como dizia Ferreira Leite em Março passado, o Governo não deve desistir deste processo de avaliação. É lamentável que a mesma Ferreira Leite, agora líder do PSD, agora necessitada de ver Sócrates e o Governo em perda, tenha vindo dizer, na véspera da manifestação de ontem, que o processo de avalição deveria ser suspenso. Ao menos tivesse a coragem de ser directa e pedisse aos professores do seu partido que engrossassem a coluna dos manifestantes (...)".

José Leite Pereira

JN

Como a opinião publicada analisa o confronto entre ministério da educação e os professores (I)

"Os sindicatos dos professores voltaram ontem a vincar uma posição de força contra o processo de avaliação de desempenho. Fizeram-no apoiados naquele que terá sido o maior desfile de manifestantes de sempre contra uma política educativa e prometeram insistir na radicalização das formas de luta.
A ministra Maria de Lurdes Rodrigues antecipou-se ao início dos discursos no Marquês de Pombal e voltou a basear a posição de manter firme a continuidade da avaliação em factos concretos: 1 - A maioria dos professores avaliados tem apenas de preencher uma ficha de definição de objectivos com duas páginas; 2 - O Ministério da Educação (ME) não impõe reuniões prolongadas ou complexos processos burocráticos, e se isso acontece deve terminar de imediato; 3 - O modelo de avaliação que está a ser aplicado foi aprovado pelo Conselho Científico composto por pessoas que não foram escolhidas pelo ME; 4 - Há muitos professores que já foram avaliados e outros que estão a fazer a avaliação; 5 - Desistir não é solução.
Sindicatos e ministra só convergem num ponto e, por sinal, aquele que é o mais importante: os interesses dos alunos e a actividade de os ensinar devem ser preservadas.
Mas o que é que de um e outro lados tem sido feito para isso? Nesta avaliação, pelo menos, o Governo leva vantagem. Os sindicatos dos professores ainda ontem reafirmaram a sua inflexibilidade: "Se eles [o Governo] não o suspendem, suspendêmo-lo nós!" Enquanto do lado Governo, há duas semanas em entrevista ao DN, José Sócrates anunciou e assumiu o compromisso: "Estamos disponíveis para, depois de fazer esta avaliação, melhorar o sistema e evoluir."

Editorial
DN

sábado, novembro 08, 2008

sexta-feira, novembro 07, 2008

Manuela Ferreira Leite pede suspensão de modelo de avaliação de professores

A presidente do PSD defendeu, esta sexta-feira, a suspensão imediata do actual modelo de avaliação dos professores, muito embora Manuela Ferreira Leite tenha defendido que a «avaliação dos professores é um princípio quo PSD defende intransigentemente».
Numa declaração na sede nacional do PSD, após um encontro com professores militantes do partido, Ferreira Leite defendeu que o modelo defendido pelo Governo «assenta em princípios inadequados e injustos».
Na opinião da líder social-democrata, este modelo está ainda assente «num esquema de tal forma burocrático e complexo que está a criar uma enorme perturbação nas escolas e a desfocar os professores da sua função essencial».
«A teimosia com que tem tratado esta questão está a afectar seriamente o que é essencial para a qualidade do ensino: a motivação dos professores», acrescentou Ferreira Leite, que aludiu a um «clima de tensão e crispação entre todos os intervenientes».
Na véspera de mais uma manifestação de professores, que foi convocada para Lisboa, Manuela Ferreira Leite considerou que «desde já, se deve começar a trabalhar num novo modelo de avaliação, sério e eficaz».
Na declaração que fez sem direito a perguntas, Ferreira Leite defendeu ainda a criação de uma avaliação «externa, retirando das escolas e dos docentes a carga burocrática e conflitual que os desviam da sua função primordial que é ensinar».
«A avaliação tem de procurar a efectiva valorização do mérito e da excelência, devendo por isso pôr-se fim às quotas administrativas criadas por este Governo», acrescentou a líder do PSD.
Ferreira Leite aproveitou também para pedir o fim da «divisão da carreira docente, iníqua e geradora de injustiças, entre professores titulares e professores que acabam por ser classificados como de segunda».
«Insistir no actual modelo é pura perda de tempo. Os professores não são justa e verdadeiramente avaliados e, principalmente, os alunos e as suas famílias estão a ser prejudicados com o clima de tranquilidade que se vive nas escolas», concluiu.
Pode ouvir aqui as declarações de Manuela Ferreira Leite.

Esta criatura fede

"O presidente da Confederação Nacional das Associações de Pais (Confap), Albino Almeida, afirma que «há um empolamento da desmotivação dos professores».
«Os professores mais antigos podem sentir maior dificuldade em adaptar-se às novas reformas. Os que se sentirem cansados e desmotivados, é melhor que saiam. Há muitos professores desempregados que querem entrar para o sistema», afirma."

Últimos dados da mobilização para 8 de Novembro

"Amigos, a mobilização assume contornos deveras interessantes. as viaturas contabilizadas, neste momento, são:

novembro 2008 - março 2008
spn: 266 - 216
sprc: 125 - 80
spgl: 54 - 38
spzs: 49 - 38
totais: 494 - 372

contando aqui com a plataforma, estamos próximos das 700 viaturas!e ainda faltam 2 dias!!!
inscreve-te! vem mostrar a mlr com quem está a lidar!"

http://diasdofim.blogspot.com/

quinta-feira, novembro 06, 2008

Grande entrevista: O PROmova e as causas dos professores

"Os professores regressam a Lisboa no próximo dia 8, em mais uma grande manifestação, contestando a política do Ministério de Educação que não evoluiu positivamente desde Março.

Embora as causas sejam várias – estatuto da carreira docente, estatuto do aluno, gestão escolar, quotas, concursos, prova de ingresso para docente – parece ser o modelo de avaliação proposto pela tutela o problema maior do mal-estar que varre as escolas de norte a sul e está a pôr em causa valores como a equidade, a credibilidade, a solidariedade e a amizade que deviam ser os elos a irmanar os docentes numa das funções mais nobres do homem: educar.
Porque o momento é difícil e urge salvar a Escola para salvar o País, fomos conversar com representantes de um dos movimentos de Professores – PROmova - com visibilidade neste caminho difícil por que segue hoje a Educação em Portugal: professores José Aníbal, Octávio Gonçalves e Pedro Areias.
NVR - Quais as causas que levam os professores novamente a Lisboa, depois de em Março se terem manifestado 100 mil professores a contestar a política do Ministério de Educação?
Octávio Gonçalves (OG) - A razão mais imediata prende-se com o facto da questão fundamental do ano anterior não ter ficado resolvida com o memorando de entendimento e de ter sido empurrada para Setembro. O PROmova tinha chamado a atenção que o problema não era somente de calendário, embora também o fosse pela implementação precipitada do modelo. Havia ali um problema que tinha a ver com a sua própria substância, conforme estava e está estruturado, com a sua complexidade, com a burocracia que nós consideramos ser gigantesca, por um lado, mas também inútil, do ponto de vista da qualificação das aprendizagens e da qualificação da própria escola. Isto sentiu-se mais, quando começou a sua implementação nas escolas, no momento em que os professores se começaram a confrontar com a extraordinária complexidade de grelhas, de itens e de descritores.
A grelha do avaliador integra, por exemplo, 80 descritores e cada um ainda tem diferentes parâmetros o que implica a recolha de informação de 300 ou mais variáveis. Ora isto é impossível, pois o avaliador, para ser rigoroso e objectivo, não fazia mais nada durante o ano.
NVR - Mas não é só avaliação que leva os professores a Lisboa…
OG - A avaliação do desempenho dos professores é o factor aglutinador. Depois há toda uma sequência legislativa que tem contribuído para a degradação da Escola, para a degradação do Ensino, para além da própria imagem pública dos professores. Nós também contestamos a estratégia de afronta, de confrontação que este governo adoptou quando seleccionou um conjunto de classes profissionais para lançar ataques que comprometeram aquilo que é a imagem pública dos professores, mas que também aconteceu com os juízes, com os militares, no sentido de dividir para reinar e de explorar um sentimento que não é lá muito nobre, entre nós, mas que também acontece, que é a inveja.
Mas o aspecto fundamental, aqui, é todo o edifício legislativo que estava orientado fundamentalmente para duas coisas. Uma é a perspectiva economicista, isto é a poupança de recursos com a educação e isso passa, fundamentalmente, por diminuir o nível de exigência nas escolas. A outra é política de favorecer as passagens, de favorecer as estatísticas para dizer que tudo isto é um sucesso extraordinário.
NVR - Mas o que se contesta, concretamente, neste modelo de avaliação?
OG - Vários aspectos. Um deles, que o desacredita, é o facto de todo este processo se estruturar à volta de uma avaliação inter-pares, que se baseou numa divisão dos professores que nós continuamos a contestar como sendo arbitrária, não tendo obedecido a critérios objectivos e justos.
NVR - Precisemos.
OG - Em primeiro lugar reduziu a avaliação da carreira dos professores de vinte ou trinta para os últimos sete anos, desrespeitando currículos, formações, experiências e empenhamentos pessoais. Em segundo lugar, esta avaliação integra itens, variáveis, que não são da responsabilidade exclusiva do professor: abandono escolar, insucesso dos alunos.
NVR – Ou seja, este modelo de avaliação culpabiliza os professores não só do insucesso como do abandono escolar dos alunos?
OG – Sim. Mas essa responsabilidade não pode ser assumida apenas pelo professor, porque estes fenómenos são multi-factoriais, alguns factores são sociais, etc. Isso tem um perigo que é o de incentivar o facilitismo. Um professor numa situação limite, para salvar a sua própria avaliação, pode ver-se tentado a «dar boas notas».
Pedro Areias (PA) – Para «dar boas notas», ignora-se a qualidade de ensino, não é? E nós estamos a criar o quê, como professores? A ser assim, como diz Medina Carreira, daqui a dez anos, teremos uma sociedade de jovens que, de facto, acabam por não ter aquelas competências que são fundamentais.
José Aníbal (JA) – Convém esclarecer que, ao dizermos isto, não estamos a pôr em causa nem o brio profissional dos colegas nem tão pouco o nosso. É que, quando confrontados com uma situação em que está em causa o seu futuro, que pode depender de um equilíbrio da própria estrutura familiar e está em causa o progredir ou não na carreira, com reflexos na economia familiar ou em condições de estabilidade e de qualidade de vida, o professor enfrenta um dilema.“Vou «dar notas» a estes alunos que considero que são as justas e as correctas, mas acabo por ser penalizado, porque os resultados não correspondem àquilo que querem que eu faça, quando esses resultados não são da minha exclusiva responsabilidade ou … atribuo classificações que não correspondem à realidade… e serei beneficiado!”
PA – Há outros aspectos com os quais nós não concordamos.
NVR – Quais?
PA - Esta avaliação sobrepõe-se à lei geral que está devidamente regulamentada na Constituição da República. Uma mãe que acabe de ter um filho fica penalizada por o ter. Se nos morre um familiar, o professor é penalizado porque faltou para ir ao funeral. Se nasce um filho, o pai não pode usufruir da licença de paternidade. Como se verifica, há, aqui, um conjunto de factores que são penalizadores para o professor. Isto jamais se poderá aceitar. Todo o modelo tem a função de penalizar e não de melhorar!
JA – Uma pessoa tem o direito de faltar 5 dias por falecimento do pai, mas é-se penalizado se se faltar. Já se sofre pelo falecimento de um familiar e depois ainda se vai ser penalizado?! Isto é extremamente desumano.
NVR – Esta é uma questão da assiduidade…
JA – É. Mas este modelo tem outros aspectos de uma grande subjectividade…
OG - O modelo de avaliação não pode permitir o favorecimento pessoal. Este modelo assenta, em grande medida, na avaliação feita por um único professor. A avaliação é, diga-se, complexa. Incluem-na as tecnologias de informação, os conteúdos científicos, as técnicas pedagógicas etc. Ora, um só professor não está em condições de avaliar com objectividade todos estes aspectos. Nós sabemos que em muitas escolas há relações de amizade, como as há de inimizade e isso pode interferir na avaliação (…)"

Chumbar para quê?

Visão

Dados actualizados da mobilização para 8 de Novembro

"Aqui ficam os dados actualizados da mobilização mais contável, a do número de viaturas completas:
novembro 2008 - março 2008
spn: 266 - 216
sprc: 114 - 80
spgl: 44 - 38
spzs: 45 - 38
totais: 469 - 372
e ainda faltam 3 dias!!!
inscreve-te! vem mostrar a mlr com quem está a lidar!!!"

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quarta-feira, novembro 05, 2008

Como vai indo a mobilização para 8 de Novembro

"o SPN já atingiu as 218 viaturas (216 em março)! o SPRC vai em 97 (95 em março). a direcção regional de santarém do SPGL já vai em 14 (em março foram 24) e muitas escolas por contar. há direcções de zona que já atingiram os números de março. as inscrições ainda estão a subir. mesmo reconhecendo a inutilidade da comparação, começa a ser tentador... eu, que às vezes discordo do umbigo dele, hoje concordei com o Paulo em relação a certa prudência que lhe li nas entrelinhas de um comentário ao titulado do Público. contudo, vejo, ainda prudente, uma possibilidade... fiz um pacto comigo mas não revelo. podem tentar adivinhar!"

http://diasdofim.blogspot.com/

Professores e sindicatos

"Professores e sindicatos não vivem os seus dias mais felizes. Esta união, que sempre teve o seu quê, parece, neste momento estar em crise. A confiança esboroa-se, os comportamentos não ajudam. As divergências entre os sindicatos e os professores acentuaram-se nos últimos tempos. Os docentes estão insatisfeitos porque sentem verdadeiramente na pele o ardor do trabalho de «sol a sol».
São eles que cavam a terra e lhe deitam a semente e, por isso, querem ser os ceifeiros da messe. Os sindicatos, porque têm as «camionetas», gostam de ser os transportadores do trigo, levando-o para o seu celeiro e daqui para a padaria, de onde o levarão para «sua casa» e para seu «prazer», deixando aos primeiros as migalhas ou, no máximo, a côdea dura que só molhado em leite ou em cevada lhes servirá de ténue alimento.

Mais de trinta anos depois, os professores resolveram também participar no festim e criaram os seus próprios movimentos de autodefesa. Perceberam que a maior parte dos sindicalistas das centrais sindicais e dos muitos que gravitam no interior das dezenas de sindicatos filiados já pouco percebem da realidade objectiva e concreta da sala de aula e da sala dos professores. Sentados há anos nas cadeiras dos gabinetes, por muito que digam que passam dias e dias no «terreno», ganharam calo no rabo, que não se cansam de coçar, melhor, lhes sabe bem coçar.

Sabem lá eles o que é indisciplina na sala de aula! (Alguém se lembra do que disse o prof. Charrua, quando regressou à escola, passados 20 anos?). Ouvem falar e pensam que isso lhes dá a sabedoria para dissertarem sobre o assunto. Sabem lá eles o que os alunos falam, como falam, como respondem, como reagem! Ouvem dizer isto e aquilo nessas reuniões que convocam para não dizerem quase nada, mas para justificarem o lugar.

Estudam (?) pedagogia para debitar… para debitar, mas não conseguem entender que a realidade da Escola é diferente daquilo que apregoam. São uma espécie de gastrónomos que só sabem enumerar os ingredientes de uma sopa, mas não a sabem confeccionar. E acham-se tão doutos que nem querem ouvir o que os professores autênticos têm para lhes dizer. Os professores não deram nem vão dar o grito do Ipiranga em relação aos sindicatos, mas a «república» já chegou. As tropas já se juntaram uma vez e vão juntar-se outra.

Os professores, perante o inferno em que a Escola se está a transformar, convocaram uma manifestação para dia 15 de Novembro, em Lisboa. Este «povo» resolveu descer à capital, na tentativa de alertar «suas majestades», mais uma vez, sobre os graves rombos que o «barco da educação» está a sofrer e com risco de se afundar. Os novos «infanções» têm considerado que os «condes», os «duques», os «marqueses» ou os «barões» não estão a defender bem o «castelo». Então esta «velha nobreza», e em especial a Fenprof, tremeu e temeu que os seus «foros» estivessem em perigo.

Convocaram outro «exército» de professores para o dia 8. Uma traição? Talvez não seja necessário dizer tal, contudo… foi um exercício de força. Quiseram dizer que eles é que detêm poder e representatividade nas «cortes». E contaram as espingardas. Mas terão verificado que as notícias que os seus emissários lhes mandavam não eram favoráveis. O exército, que esperavam comandar, iria ser diminuto: havia escolas sem «voluntários» inscritos. Foi então que o «estado maior» da Frenprof chamou na quarta-feira passada (29 Out.) os movimentos de professores, para negociaram a paz.

O «tratado» fica, para já, com esta data, evitando, os professores, beijinhos e abraços, pois, conforme dizem elementos do PROmova, de Vila Real, “os movimentos vão continuar a existir até que ocorra a pacificação das escolas” ( ver entrevista). Estes movimentos não terão a «mentalidade e a estratégia» de D. Afonso Henriques nas lutas com o seu primo D. Afonso VII, ao agir por impulsos e segundo as suas conveniências, mas estão aí para se fortalecer, porque eles têm as «ementas» e sabem com «cozinhá-las». Para já avançam para a segunda conquista do «castelo» de Lisboa. A jornada é decisiva. Boa sorte".

Ribeiro Alves